17 de Maio, 2022

História de vida do Tungue Quemabe

O Tungue Quemabe é um jovem de 22 anos que, como quase todos os jovens da sua idade, está cheio de energia e planos para o futuro. Nasceu na pequena vila de Contuboel, no nordeste da Guiné-Bissau, e ali continuar a viver, rodeado da sua família e amigos. Os seus dias passam-se entre a casa, partilhada com a sua mãe e a sua irmã, e o Centro Educacional Irmã Valdelícia (CEIV), onde estuda e trabalha. A vida do Tungue decorre tranquila, mas, até há pouco tempo, com uma dificuldade acrescida. O jovem cresceu com uma deficiência auditiva que nunca tinha sido avaliada, e muito menos tratada, e que lhe impedia ouvir, com todos os desafios que isso implica.

Por exemplo, o Tungue fala com muita dificuldade, pois nunca tinha ouvido. Por este motivo, apesar do seu empenho e do cuidado dos seus professores no Centro Educacional Irmã Valdelícia, não conseguia avançar ao mesmo ritmo que os jovens da mesma idade.

Bolseiro do projeto Aprendizagem Inclusiva

A sua deficiência auditiva foi um dos fatores que o levaram a ser incluído no Banco de Bolsas do CEIV, criado durante o projeto Aprendizagem Inclusiva. Foi assim que na Sol sem Fronteiras conhecemos a sua história de vida, pois este foi um projeto desenvolvido pela nossa associação. Para tal, contámos com a parceria das Irmãs de Santa Teresinha do Menino Jesus, responsáveis pela Escola, e com o cofinanciamento do Instituto Camões, I.P.

Durante os mais de dois anos que trabalhámos no CEIV tivemos a felicidade de acompanhar a evolução do Tungue, que passo a passo está a superar grandes desafios. Em primeiro lugar, vimos como ganhou uma das bolsas de estudo, que ajudou em muito a economia familiar. Na altura, a mãe do Tungue era a única adulta do seu agregado familiar. Sob o trabalho dela na campanha do caju e na horta de cebolas, caia a responsabilidade de alimentar e enviar à escola ao Tungue e à sua irmã. Por isso a bolsa de estudo, que suportava as propinas do Tungue, foi um alivio para toda a família.

A seguir, o Tungue foi contratado para trabalhar no aviário do CEIV, que também foi construído durante o projeto Aprendizagem Inclusiva. O jovem em seguida demonstrou ser um colaborador responsável e empenhado pelo que a sua contratação foi um sucesso.

Consulta de otorrinolaringologia em Bissau

Passado um tempo, o Tungue viajou até Bissau, a capital do país, para uma consulta de otorrinolaringologia. No entanto, realizar a consulta não foi tarefa fácil. Apesar de apenas precisar de uma primeira avaliação, não havia disponível, na altura, um audiómetro em nenhum hospital da cidade. Finalmente, o Tungue teve sorte e conseguiu o seu diagnóstico graças a uma equipa de médicos voluntários portugueses que estava temporariamente na Guiné-Bissau.

O caso do Tungue é um bom exemplo de como o voluntariado internacional ajuda a mudar muitas vidas, mas não só. Também nos permite contextualizar a realidade dos serviços médicos na Guiné-Bissau, que trabalham com muitas carências. O audiómetro, um equipamento bastante comum em Portugal, é uma máquina muito difícil de encontrar na Guiné-Bissau, como muitas outras. Assim, ao olharmos para estas desigualdades, é fácil perceber a importância de desenvolver projetos de cooperação internacional. Isto porque servem para apoiar e capacitar as populações dos países em desenvolvimento, para que se tornem autónomas e não fiquem dependentes da ajuda externa.

Seja como for, o diagnóstico do Tungue foi muito positivo: embora tenha um dano grave, teria possibilidade de ouvir com a ajuda de aparelhos auditivos. Feliz com o resultado, o jovem regressou a casa cheio de esperança, mas também consciente de que o caminho não seria fácil. Primeiro seria preciso conseguir os aparelhos e despois, aprender a ouvir e a falar com sessões de terapia da fala.

Atraso provocado pela pandemia

Apesar da determinação do Tungue, que estava pronto para aceitar este desafio, a pandemia chegou, atrasando todo o processo. Com tudo fechado, não houve maneira, durante quase dois anos, de fazer nenhum avanço, mas, há uns meses, isto mudou. Na vida do Tungue cruzaram-se várias pessoas que, com pequenos gestos, fizeram uma grande diferença.

Por um lado, o Dr. João Subtil, médico português que numa missão médica a Bissau doou os aparelhos auditivos para o Tungue. Por outro lado, a Dra. Maimuna, do Hospital Simon Mendes de Bissau, que acompanhou o caso do jovem e a instalação dos aparelhos. Já mais recentemente, também a Dra. Maiane Martins, que está a conduzir a sessões de terapia da fala e que deu indicações dos passos a seguir. E para finalizar, a Libertad Jiménez, nossa técnica de projetos, que desde que conheceu o caso o acompanhou e apoiou para todos estes passos e contactos fossem feitos e conseguidos.

Já com os aparelhos e o diagnóstico, o Tungue tem ainda um longo caminho pela frente até ser completamente competente na fala. No entanto, temos a certeza de que irá conseguir pois é um jovem dedicado e com grande capacidade para evoluir. Do nosso lado fica a partilha desta história de vida, que não é apenas um belo exemplo de superação pessoal como também das grandes coisas que a cooperação traz.

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