26 de Janeiro, 2023
História vida de Milo
Esta é a história vida de Milo, um jovem de Caió, na Guiné-Bissau, apaixonado pela vida.
A nossa voluntária Sara Correia conheceu o Milo durante o projeto Ponte, o projeto de voluntariado de curta duração fruto da parceria entre os Missionários do Espírito Santo, os Jovens sem Fronteiras e a Sol sem Fronteiras. A Sara sentiu-se tão bem acolhida por este jovem guineense que quis partilhar connosco a sua história de vida.
História de vida de Milo
Ser diferente é difícil em qualquer parte do mundo. Contudo, ser diferente em países em desenvolvimento tem uma dificuldade acrescida devido à falta de informação e recursos.
O Ludmilo, ou Milo para os amigos, é prova disso mesmo, mas é também a prova viva de que nada é impossível.
O Milo é o cristão, e o ser humano, que todos devíamos ser. Quando nos via na rua corria até nós, mesmo com as dificuldades de locomoção. Quando tinha um problema ou algo que o incomodava, falava connosco e nunca tinha medo de pedir ajuda. Quando nos via atrapalhados não, hesitava em auxiliar-nos.
Lembro-me de uma situação concreta que mostra o quão especial ele é. Durante o nosso mês em Caió demos aulas de Português à comunidade, mas para termos um ensino de qualidade convém termos uma sala também ela de qualidade. O nosso grupo resolveu, então, passar um dia a limpar as salas que estavam cheias de pó e aranhas. O Milo veio ter connosco, como era habitual, e quando viu que era preciso ajuda pôs-se a carregar mesas. Eu sei que esta situação pode aparentar ser normal, mas é muito especial porque o Milo, apesar de ter alguns problemas ao nível da mobilidade que afetam tanto os membros superiores como os inferiores, estava ali a carregar mesas, tal como eu.
Além destes problemas motores, o Milo tem algumas dificuldades cognitivas, que tambem afetam a fala. No entanto, isso não o impediu de ir a todas as aulas de Português, à missa ou aos nossos momentos de convívio. Este rapaz deve ter sido a maior surpresa daquele mês e é um lembrete constante de que com força de vontade conseguimos fazer tudo, ou quase tudo.
O meu amigo Milo tem muitas coisas em comum comigo. Ambos gostamos de roupa nova, de dançar e de Portugal. Aliás, fartámo-nos de ver fotografias de Portugal. Somos eternos apaixonados pela vida e o Milo só não tem uma namorada porque diz não ter dinheiro para comprar presentes para uma rapariga. Amigo Milo apesar de não teres uma namorada, roubaste-me o coração com a tua doçura, com os teus abraços carinhosos e com a última palavra que trocámos, “saudade”.
Sara Correia
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