19 de Setembro, 2022

Primeiros dias do grupo Cor Unum no Brasil

O grupo Cor Unum chegou a Belém no dia 6 de setembro pelas 21h00 e teve logo uma receção muito acolhedora! Dom Teodoro Mendes Tavares, o bispo da Diocese, recebeu os 11 voluntários com a sua alegria característica. No aeroporto, estavam também o Manuel Bento, antigo diretor executivo da Sol sem Fronteiras, e a sua esposa, para completar a bonita “acolhida”.

Primeiros dias de adaptação

Os primeiros dias foram dedicados a entrar no ritmo, no clima, a conhecer a cúria diocesana e a equipa residente, e também a conhecer a realidade local e algumas características da cultura marajoara. O Bispo levou o grupo a conhecer a Catedral de Nossa Senhora da Nazaré, o Forte do Presépio (local onde nasceu a cidade de Belém), o Mercado Ver-O-Peso (o maior mercado da América Latina), o Museu Emílio Goeldi (o Museu Zoobotânico da Cidade de Belém, com inúmeras espécies de fauna e flora características desta zona da Amazónia).

No dia 8 de setembro, o grupo foi convidado a passar uma parte da tarde no Seminário Nossa Senhora da Assunção – o Seminário da Diocese de Ponta de Pedras, nos arredores de Belém. Aí houve tempo para conhecer os seminaristas que aí residem, para celebrar a Eucaristia e partilhar um jantar com eles. No regresso a Belém, de forma inesperada, o grupo cruzou-se com Dom Antônio de Assis Ribeiro – o Bispo auxiliar de Belém – e Dom Américo Aguiar – Bispo auxiliar de Lisboa –  que estavam numa missão de divulgação da Jornada Mundial da Juventude 2023 pela cidade de Belém. Foi bom encontrar caras conhecidas do outro lado do oceano!

Na sexta-feira, dia 9, o grupo partiu para a sede da Diocese, em Ponta de Pedras, onde foi passar o primeiro fim-de-semana desde que chegou. A receção ao Marajó foi absolutamente maravilhosa, festiva e calorosa: foi ao som do Carimbó através da banda Sipuada Sucupira, que o grupo pisou o trapiche pontapedrense, e teve direito a um espetáculo incrível para saborear um pouco da cultura marajoara, logo à saída do barco. Neste dia, cheio de surpresas e coisas boas, o grupo conheceu a Rádio Itaguary, a Rádio mais antiga da Diocese, onde os trabalhadores Marineia, Jucelino e Nazaré, em conjunto com D. Teodoro, deram uma explicação sobre o nascimento das rádios educativas na Diocese, a sua importância neste contexto insular, o seu peso educativo, (in)formativo, religioso e de luta contra a solidão, e a necessidade premente de manter as rádios em funcionamento. Conhecer de perto um projeto de cooperação, o qual a Família Espiritana, através da Sol sem Fronteiras, pretende apoiar, permitiu ao grupo perceber a sua verdadeira importância.

Ainda em Ponta de Pedras, o grupo visitou diversas comunidades: Santo António de Cupichaua, no rio Marajó-Açú, Nossa Senhora da Nazaré de Vila Nova, Praia Grande e São Pedro de Mangabeira. Em Santo António de Cupichaua, o grupo conheceu a história da comunidade, o surgimento da igreja na comunidade (que foi construída na época de Dom Ângelo Rivato sob condição de, simultaneamente, ser construída uma escola para a comunidade).  Desde banhos no rio a provar água de coco e a aprender a apanhar açaí das árvores, esta comunidade trouxe muitas aprendizagens para o grupo Cor Unum.

Chegados a domingo ao fim do dia, o grupo partilhava: “como é bom estarmos aqui!”.

Segunda semana do projeto

Segunda-feira, 12 de setembro, foi o dia de partir para Cachoeira do Arari, o local de missão desde projeto. A Ir. Socorro, da Congregação da Imaculada Conceição, acompanhou o grupo desde Belém juntamente com a Ir. Ramona, que regressou ao Marajó 15 anos depois desde a sua saída para outra missão. As irmãs desenvolvem um trabalho muito interessante e premente em Cachoeira, junto dos jovens, crianças e idosos, através do projeto “Queremos Crescer”, que envolve atividades de música (aprendizagem de instrumentos), reforço no português e matemática, dança e trabalhos manuais, visitas aos idosos e às famílias. Pretendem ainda iniciar aulas de informática e a pastoral da escuta, de forma a apoiar a comunidade através de um ombro amigo. Têm ainda o sonho de criar uma quadra desportiva, de forma a manter as crianças e jovens fora das ruas e longe das drogas e de outros problemas sociais identificados.

O P. David Charles é o pároco há cerca de 5 anos, nesta que é a Paróquia mais antiga da Diocese, com cerca 130 anos de existência. Ele recebeu o grupo de braços abertos, juntamente com os jovens e alguns membros do Conselho Pastoral e ainda a turma de música com o Professor Luís Henriques que cantaram para o grupo a “Alma Missionária” ao chegar ao Centro Social e Pastoral Ir. Maria das Neves, local onde o grupo Cor Unum “mora” durante este projeto missionário. Este centro social é composto por várias salas polivalentes, que neste momento tanto servem para dar catequese, para dar aulas de música, como para acolher as aulas de uma escola de ensino fundamental cujas infraestruturas estão em obras. Será ainda o local das aulas de informática do projeto “Queremos Crescer” das irmãs de Maria Imaculada Conceição.

Num dos primeiros momentos em Cachoeira do Arari, o P. David convidou o professor Diego Bragança de Moura, historiador local especialista em cultura marajoara, que contou a história do surgimento dos povos indígenas no Marajó, muito através dos estudos arqueólogos da cerâmica marajoara, a forma de viver, as diferentes características destes povos, especialmente no que diz respeito aos rituais ligados à morte e à linguagem escrita (ou no caso, desenhada em cerâmicas) que deixou. Partilhou sobre o nascimento da cidade de Cachoeira do Arari, cuja história começou através do galego Capitão-Mor André Fernandes Gavinho, o primeiro fazendeiro da cidade, em 1743. A cultura, a culinária, a grande festividade do Glorioso S. Sebastião (considerado Património Cultural do Brasil pelo IPHAN), as tradições como a corrida do cavalo marajoara, do gado marajoara, a luta marajoara ou o leite de búfala e os seus derivados, foram algumas das partilhas e curiosidades deixadas pelo Prof. Diego. Durante a tarde, levou o grupo Cor Unum numa visita guiada ao Museu do Marajó, museu fundado pelo P. Giovani Gallo, padre jesuíta falecido em 2003, que dedicou toda a sua vida à divulgação e preservação da história e cultura marajoaras. Foi um dia muito rico em aprendizagens para este grupo de portugueses que ficou a conhecer ainda mais sobre o marajó, as línguas indígenas, a influência dos costumes, da linguagem, da fauna e da flora nos dias de hoje.

As atividades de trabalho também já tiveram início: visitas às famílias nas comunidades da cidade e do interior, atividades lúdicas com as crianças da escola fundamental, encontro de jovens e encontros de lideranças nas comunidades de Retiro Grande e Bacuri. Estes grandes centros juntaram pessoas de várias comunidades ao redor, tendo ao todo

Todos os dias têm sido dias de encontro, de partilha, de aprendizagem, de organização de trabalho e de participação na vivência da fé desta paróquia riquíssima. Cada dia é uma lição, pois todas as comunidades são uma família unida e transmitem esse sentido de unidade, também sabendo acolher os que vêm de fora. O dom de bem-receber está no Marajó!

E a frase partilhada ao final do dia continua a ser: “Como é bom estarmos aqui!”.

Continuaremos em contacto!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *