21 de Novembro, 2023

Doações sustentáveis: a visão da Solsef

Na Sol sem Fronteiras, acreditamos que o desenvolvimento passa por capacitar as comunidades a construir o seu próprio caminho. Por isso, em vez de aceitar doações como livros e roupas, optamos por uma abordagem menos convencional, de doações sustentáveis, com o objetivo de empoderar as comunidades onde trabalhamos. Este artigo explora esta abordagem e explica por que nos focamos em iniciativas que têm um impacto mais duradouro.

Romper com o modelo tradicional do assistencialismo

Em muitos casos, doadores bem-intencionados oferecem-nos bens valiosos, como livros e roupas, para que os transportemos de Portugal para comunidades vulneráveis, especialmente na Guiné-Bissau e em Moçambique. No entanto, na Sol sem Fronteiras, decidimos romper com esse modelo tradicional por várias razões e optar pelas doações sustentáveis.

O nosso objetivo principal é promover o desenvolvimento sustentável nas comunidades onde trabalhamos. Deste modo, aceitar doações convencionais pode criar uma dinâmica de dependência a longo prazo que tentamos evitar.

Algumas razões pelas quais evitamos as doações de bens

  1. Adaptabilidade ao contexto académico local: Ao levar livros ou outros bens que não estão alinhados com os planos académicos do país ou não são culturalmente relevantes, corremos o risco de impor ideias estranhas à realidade local. A nossa abordagem é respeitar e adaptar-nos à cultura de cada comunidade para garantir que as intervenções sejam significativas e eficazes.
  2. Impacto ambiental negativo: O transporte de bens doados, muitas vezes realizado por barco e avião, causa poluição desnecessária. Além disso, é difícil controlar onde esses bens acabam e, por conseguinte, muito fácil contribuir involuntariamente para a acumulação de lixo nos países recetores. Na Sol sem Fronteiras, comprometemo-nos a minimizar o nosso impacto ambiental e a preservar a saúde dos ecossistemas locais.
  3. Aproveitamento dos recursos financeiros: Na Solsef, queremos destinar o máximo dos euros que angariamos aos projetos e, portanto, ao bem-estar das comunidades. Assim, optar por não transportar doações convencionais permite-nos direcionar todo o nosso financiamento para outras atividades dirigidas às pessoas.
  4. Fomentar o crescimento económico: Por outro lado, acreditamos na importância de fomentar a economia local dos países onde trabalhamos. Neste sentido, transportar bens de um país para outro também impacta negativamente os mercados locais. Por isso, na Solsef, optamos por comprar produtos localmente sempre que possível, estimulando assim o crescimento económico das comunidades e evitando a competição com os comerciantes locais.

No entanto, em casos excecionais, também precisamos de transportar materiais que são difíceis ou impossíveis de obter localmente. Isso inclui alguns produtos tecnológicos que podem ter um impacto significativo na educação.

Desafios e recompensas das doações sustentáveis

Ao adotar esta abordagem, enfrentamos desafios, mas também colhemos recompensas notáveis. O respeito pelo meio ambiente, a autonomia das comunidades e o impacto duradouro são a essência do que fazemos.

  1. Desafios: Não aceitar doações convencionais pode gerar desafios na obtenção de recursos e até desconfiança entre alguns doadores. É normal, pois é uma mudança perante o modelo mais habitual, mas acreditamos que o benefício a longo prazo justifica essas dificuldades. Com esta postura não pretendemos desvalorizar o trabalho de tantas e tantas pessoas que lutam por um mundo mais justo. Esta é apenas a reflexão à que chegamos na Sol sem Fronteiras tendo em conta a nossa realidade e os meios que temos disponíveis.
  2. Recompensas: Ao priorizar a economia local e a sustentabilidade ambiental, testemunhamos comunidades que prosperam de maneira autossuficiente. Ao longo dos anos já são muitas as iniciativas que implementamos neste sentido e que continuam a dar os seus frutos, como por exemplo o aviário do projeto Aprendizagem Inclusiva. No âmbito deste projeto, que decorreu no Centro Educacional Irmã Valdelícia (Contuboel, Guiné-Bissau) com o apoio do Instituto Camões, I.P., construímos, entre outras muitas atividades, este aviário. O intuito era criar animais para abastecer o refeitório da escola, também construído durante o projeto. Felizmente, vários anos depois, o aviário continua a funcionar, sendo uma fonte de proteína regular para os alunos, e conta com vários empregados. Assim, conseguimos criar um projeto com impactos duradouros para toda a comunidade.

Em suma, a nossa abordagem é guiada por princípios de sustentabilidade, autonomia e respeito. Pretendemos romper com o modelo do assistencialismo para construir um futuro em que as comunidades sejam capacitadas e autossuficientes. Por issot, muito obrigada a todos os que se juntaram a nós nesta jornada pelo desenvolvimento global sustentável.

Participa na discussão! Deixa o teu comentário abaixo e partilha as tuas ideias sobre abordagens sustentáveis para o desenvolvimento comunitário.

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